quinta-feira, 2 de julho de 2009

Napoleão



Tinha sempre uma cor de terra. Parecia sempre sujo, embora estivesse limpo e morasse em um quinto andar longe de qualquer lama. Tinha a mania de se confundir com minhas pernas, achei que tinha algum amor platônico por mim, mas percebi que cortejava todos que entravam. Era manso ou apenas um falso que adorava um carinho. Não sei dizer ao certo porque um dia ouvi uma história de que ele havia atacado alguém, depois desse dia desconfiei de sua doçura.

A casa sempre estava arrumada. Ela havia colocado umas prateleiras continuas por toda a casa para que ele pudesse ter seu espaço e nos observasse de cima. Não era esse o nome, mas o apelidei de Napoleão.

Napoleão adorava uma comida de saco rosa. A embalagem escondia muito bem o cheiro terrível que tem aqueles biscoitos. Ele era um membro da família, diria até que o patriarca: nunca viajavam sem que em primeiro plano estivesse o conforto de Napoleão.

Sempre achei uma frescura o modo com que tratavam Napoleão, ele combinava as roupas com as cores da estação, usava meias e tomava banho com um shampoo mais caro que o meu. Um dia, fiquei sabendo que o pobre Napoleão foi achado na rua, pequeninho, quase morto, aí ficou explicado, queriam dar ao Napoleão uma recompensa por ter passado dor e frio durante 5 dias: deram uma vida inteira de prazeres a disposição. Transformaram-no em um monstro egocêntrico, como se isso já não tivesse em seu instinto.

No dia em que se mudaram, dei um presente para o Napoleão, algo que, possivelmente, ele destruiria em 10 minutos. Adoraram e prometeram sempre trazerem o Napoleão para nos visitar. Faz três anos... ... nunca mais vi Napoleão, soube que ele teve filhos e que destruiu um sofá, mas nunca mais tiveram aqui.

Hoje, vi a ração na seção de pets no supermercado, lembrei com carinho do sedutor que, apesar de tudo, alegrava aquele Ap.