quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A aniquiladora de interrogações .



Em certos momentos, não sei se as dúvidas realmente existem. Às vezes, pergunto o que já sei e depois me pergunto se realmente preciso dessas interrogações...

Disso eu não sei, não quero saber.
... ... ...

Mas... agora me veio uma dúvida: como seria a vida sem as interrogações? Chateio-me com algumas perguntas, mas como seria a vida, como seria A minha vida sem as dúvidas? A saudade pode ser substituída pela falta; e as interrogações? quem as substituiria? Sobrariam as vírgulas, as exclamações, os pontos... e ponto! Ponto final, a vida seria ba-ba-qui-ce, repleta de surpresas indesejáveis e fins de conversas por falta de... dúvidas.

E aquela curva da interrogação? Ela quer ser perguntada. Ela não é a reta da exclamação. Ela é um fim de ‘’s’’ dos quadris. È uma concha receptiva, uma boca aberta:

– Vá, me use!

É... é assim que a dúvida nos seduz. O curioso acima de tudo é um seduzido.

A atraente interrogação é quem guia a humanidade, a humanidade tarada..., desejosa...,
que tem direito a tudo, menos de duvidar da dúvida.

Ave!


ana não conhecia o céu, ana via o céu, mas nunca foi pássaro.
Um dia desses, desprovido de razão, o dia sentiu e foi mais que dia, mais horas, mais que espera. ana voou e ana gastou todo seu vôo em um só dia , ana gastou o que era seu do céu em um só dia. Amanhã ana não viu mais o céu, ana não foi ao céu, uma garra de Mar cortou as asas de ana, o céu era do Mar e não de ana. ana olhava as estrelas e o sol e a lua, sentia o brilho, o calor e o reflexo, mas não eram de ana. ana então caiu e sentiu por ter sido só um devaneio do dia, mas ana agradeceu a todo aquele dia e por não ser Mar e por ter sentido o céu como uma ave voando a seu lado.

Anjos vermelhos


As pitangas, em minha memória, são anjos de vestido vermelho rodando em uma ciranda. Penso nas pitangas brincando entre os verdes de um pomar, se escondem em lugares impossíveis de se achar e ficam lá , inacreditavelmente, camufladas com vestidos vermelhos em um cenário verde .

infusão


Da vez que eu te abandonei a primeira vez eu corri três esquinas. Arrependi-me por não ter dito que estava saindo para uma coisa mais rápida e ter te causado um desespero.
Da segunda vez eu esqueci meu corpo e fui embora,bati a porta com força e fui.Descrevi minha angustia na mesa empoeirada e foi só. Fiquei uma semana fora de mim. Voltei da guerra e você ainda não havia se desesperado, ficou falando da multa que pagaríamos na locadora.
Cai no sofá como uma pedra, coloquei os pés sobre uma cadeira, quis gritar com a sua inércia, mas tive medo de assustar meu corpo que tinha ficado por lá e não sabia muito sobre minha raiva.
Da terceira vez eu não sai da casa, resolvi me perder por lá, esquecer-me por lá, procurei passagem secreta para me esconder, um alçapão, mas não tínhamos nada disso, de qualquer forma eu não queria sair de casa, queria tentar provocar seu desespero por ali, andar pelas ruas não estava surtindo efeito. Deitei, fui para debaixo do cobertor mais grosso que tínhamos, procurei o lugar mais escondido na cama e você disse dois versos da Espanca e me ofereceu um chá.

Verão 2010


Hoje catei cada agulha, cada botão e linha. Terminei enterrando tudo no fundo de casa.
Coloquei cadeado, amarrei com correntes e cavei até encontrar as pedras. Tudo foi pra lá, cada fio da seda que já tinha se tornado um novelo empoeirado.
Eu ainda brincava com este novelo como um gato de rua, ainda batia esperando que ela voltasse em minha direção,mas cansei.
Tive pena de mim ao perceber que descendo as escadas, muitas vezes, eu entesourava meus passos tentando formar um modelo ideal, desenhava imaginando que tendíamos para uma mesma direção, mas a estação acabou.
Lá, junto com minha tentativa frustrada de estilo, enterrei os cartões, os livros , as músicas e o que me prendia a tudo isso.abandonei cada sentido, amarrei meus arrependimentos, meus pesares e ponderações. No fim das contas o que mais pesou no baú foram as traças.
Não foi triste jogar a última pá de terra, triste mesmo foi ver que enterrei somente papeis amarelados.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ritornelo


...se vivesse comungando com a rua, o pedaço de endereço em que você habita; Se eu colocasse todas as minhas bandeiras ao sabor do teu vento; Se esquecesse meu rastro, minha assinatura, meu cordão... eu rodaria numa ciranda-zepelim e voltaria sem destino, abraçada numa asa que quebraria na altura exata para me salvar da morte, mas não do julgamento e da vontade.