sábado, 24 de agosto de 2013

Em pedaços

Esse seu sentir me afoga a voz.

Dói saber dessa alegoria que você acorda todos os dias e desfila como num bloco de quarta-feira.

De todos os crimes a mais dolorosa das penas é a distância.

Para os amantes foi feito o sonho.

A eternidade será um tijolo.

 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Whisky

Duas palavras, por favor.

Bastante gelo e em um copo longo.

Duas palavras de ódio, hoje eu não quero ternura.

Duas foices em minha garganta e álcool pra queimar.

Duas palavras parceiras, capazes de matar, cumplices, amantes.

Galho


O galho na janela não me deixa dormir, o galho e suas folhas verdes. Aquele viço, aquela força batendo como quem falasse: olha pra mim, veja como sou.
Empurro, todas as noites, a cabeça com força no travesseiro, tento parar de respirar e acabar com a agonia, mas ele, alimentando-se de meu desespero, bate mais e mais forte na janela.
Não me magoa sua natureza, me diminui e irrita.
Não tenho raízes, não tenho sementes, só carne e um fraco tronco.
Nem mesmo arbusto, tão pouco arvore.

Rede

Balançamos. Eu empurrei com a ponta do pé. Balançamos.
O vento bateu de uma forma preguiçosa, cada palavra foi despretensiosa.
Não houve navalha ou lança. Não fomos alvo. 
Perdemos a hora, gastamos o medo com um chiclete.
Uma escova de dente, uma chave esquecida.
Um corvo na saída. 
                                                                               Um beijo de despedida.

Beta


Dentro de um pote o meu coração. Um punhado de peixes coloridos.

Dentro de um pote

                    tudo que era, em mim, vivo.

Dentro de mim, um punhado de peixes coloridos.

Pluviograma

Vou colocar a chuva em um cofre. A chuva é uma bela moça e não merece ser apresentada em horas inadequadas.
Guardarei a chuva pra manhã de um poeta, pra um louco apaixonado... a chuva não merece a inconveniência de passeios com guarda-chuva ou de um trabalho na segunda-feira.
Não compare a chuva com o sol nos fins de semana, não arqueie a chuva com o peso de seu atraso.
Escute a beleza.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Lepus


    Seus olhos riem! Não por conta da contração natural em que o lábio aperta o resto do rosto e aparece protagonista, é um riso epifânico.
  Esse riso dança um balé perfeito com a timidez nublada que aparece em todos os outros risos de seu corpo.
  Vi e minhas palavras perseguiram estas reações, vasculharam meus pensamentos procurando uma fórmula que levasse aquele estágio a um ponto estável, onde não fosse apenas vestígio, onde não fosse apenas uma lebre e seu caçador, onde cada olhar seu fosse indiscutivelmente meu.
  Talvez seja a minha canalhice a responsável por esses detalhes, talvez a dança não tenha sido assim. Talvez você a ame, talvez seja iniquidade descobrir.


Nada pleno


Às vezes eu tenho medo de sua beleza, por isso, às vezes, eu não sou eu. Abandono o mar e parto para a terra instável ao seu redor.

Não coleciono todas as infelicidades espalhadas por ai, essas são muito menores do que imaginam. Tenho o dom de atrair amigos hiperbólicos e de ser um tanto assim.

Toda maça tem casca e semente, ninguém é em seu todo Shangri-La.

Sem mais


Duas folhas amassadas e um guardanapo cheio de formigas fazem parte de meu quarto nesta manhã, um borrão persiste em minha memória, quero esquecer, mas nada de importante aconteceu.
Chove fraco, a natureza poderia se impor, igual a mim. Há um marasmo geral, dentro e fora.
Aquele sentimento de umidade, os dias nublados desencorajam mais que um verão escaldante.
Medo de por casaco e o sol aparecer, causaria desconforto.
No mais não há nada, ou melhor, apenas espero que entardeça, um ou dois trovões... Quem sabe?