segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Dela



Ana me cortou o peito quando passou sem ver meu rosto, foi efeito da minha viagem sem avisar. Não falei da viagem por falta de fôlego, mas que arrependimento de não ter dito tudo a Ana, agora tenho que deixar que me corte inteira toda aquela indiferença.
Tentei reagir a falta de olhar de Ana ,mas a falta do olhar de Ana empalideceu minha reação, tentei puxá-la pelos braços, forçar pelo menos um olhar de susto... Não tive forças, meus braços e pernas rasgaram em todos as rotas e cada pensamento de como chegar aos braços de Ana me custava um dedo. Sai de lá mutilada.
Corri a ladeira inteira, passei os olhos por todas as árvores que Ana gostava e voltei para casa. Nada de Ana é Ana sem Ana. Não adianta viver tudo dela sem ela. Preferi lembrar da indiferença, que apesar de me deixar longe, é dela.

Lego


Guardo em mim coisas de criança, não com nostalgia, com calor . Não sou muito da criança que eu era, mas me lembro muito de coisas como “Banco imobiliário”, “pega-varetas” e o LEGO, meu brinquedo favorito... infelizmente, foi sumindo aos poucos e, hoje, já não tenho nenhuma peça. Acho que é isso que acontece com nossa infância, vai sumindo aos poucos. As primeiras peças são imperceptíveis e logo damos de cara com a impossibilidade de brincar: já não temos peças que encaixam... Nossa infância foi embora e só percebemos isso no final e achamos que foi num passe de mágica, entretanto não foi bem assim. Um dia deixamos de colecionar pedras; no outro, escolhemos as roupas e, numa sucessão de desistências, nossa infância se vai.