O galho na janela não me deixa dormir, o galho e suas folhas verdes. Aquele viço, aquela força batendo como quem falasse: olha pra mim, veja como sou.
Empurro, todas as noites, a cabeça com força no travesseiro, tento parar de respirar e acabar com a agonia, mas ele, alimentando-se de meu desespero, bate mais e mais forte na janela.
Não me magoa sua natureza, me diminui e irrita.
Não tenho raízes, não tenho sementes, só carne e um fraco tronco.
Vou colocar a chuva em um cofre. A chuva é uma bela moça e não merece ser apresentada em horas inadequadas. Guardarei a chuva pra manhã de um poeta, pra um louco apaixonado... a chuva não merece a inconveniência de passeios com guarda-chuva ou de um trabalho na segunda-feira. Não compare a chuva com o sol nos fins de semana, não arqueie a chuva com o peso de seu atraso. Escute a beleza.
Seus olhos riem! Não por conta da
contração natural em que o lábio aperta o resto do rosto e aparece protagonista,
é um riso epifânico.
Esse riso dança um balé perfeito com a timidez nublada que aparece em
todos os outros risos de seu corpo.
Vi e minhas palavras perseguiram estas reações, vasculharam meus pensamentos
procurando uma fórmula que levasse aquele estágio a um ponto estável, onde não
fosse apenas vestígio, onde não fosse apenas uma lebre e seu caçador, onde cada
olhar seu fosse indiscutivelmente meu.
Talvez seja a minha canalhice a responsável por esses detalhes, talvez a
dança não tenha sido assim. Talvez você a ame, talvez seja iniquidade
descobrir.
Às vezes eu tenho medo de sua beleza, por isso, às vezes, eu
não sou eu. Abandono o mar e parto para a terra instável ao seu redor.
Não coleciono todas as infelicidades espalhadas por ai,
essas são muito menores do que imaginam. Tenho o dom de atrair amigos hiperbólicos
e de ser um tanto assim.
Toda maça tem casca e semente, ninguém é em seu todo
Shangri-La.
Duas folhas amassadas e um guardanapo cheio de formigas
fazem parte de meu quarto nesta manhã, um borrão persiste em minha memória,
quero esquecer, mas nada de importante aconteceu.
Chove fraco, a natureza poderia se impor, igual a mim. Há um
marasmo geral, dentro e fora.
Aquele sentimento de umidade, os dias nublados desencorajam
mais que um verão escaldante. Medo de por casaco e o sol aparecer, causaria desconforto. No mais não há nada, ou melhor, apenas espero que entardeça,
um ou dois trovões... Quem sabe?